QUEM FOI GERALD GARDNER (1884-1964)

 

Gerald Gardner nasceu em 13 de junho de 1884 em Blundellsands, Inglaterra, em uma família com antecedentes de Bruxaria e habilidades psíquicas. Uma antepassada, Grissell Gardiner, havia morrido na fogueira em Newburg em 1610. Também, o avô do Gardner se casou a uma mulher que se dizia ser bruxa. Muitos de seus parentes diziam possuir faculdades paranormais.

Quando Gerald tinha quatro anos, sua babá, Josephine McCombie (Com), convenceu aos pais do garoto que lhe permitissem viajar com o menino na esperança de que um clima mais quente ajudaria a aliviar sua severa asma. Seus pais concordaram com a sugestão e durante muitos anos Gerald viajou com Com pela Europa e Ásia. Mais adiante Com se estabeleceu no Ceilão (Sri Lanka) onde se casou e Gerald encontrou emprego em uma plantação de chá. Ele passou mais de 30 anos no Extremo Oriente plantando chá no Ceilão e borracha na Malásia, onde de 1921 a 1936 foi agente alfandegário para o Governo Colonial Britânico. Tendo viajado o mundo desde muito cedo, conheceu diferentes culturas e expressões religiosas. O Ocultismo sempre o fascinou.

Depois de se mudar para o Extremo Oriente, Gardner ficou muito interessado em Misticismo e até escreveu um manuscrito sobre as Keris e publicou os aspectos tradicionais de onde esses itens vieram.

Em 1927 se casou com sua primeira e única esposa, Donna.

Em 1940, ao se aposentar do serviço civil e com o advento da Segunda Guerra Mundial, Gerald Gardner voltou para a Inglaterra e se mudou para uma área considerada sagrada, chamada New Forest.

Gardner era um naturista. O naturismo era uma grande moda na Inglaterra em meados da década de 1920 e 1940. Campos naturistas apareciam em todos os lugares e um deles floresceu em New Forest que era um bom lugar para a prática.

Gerald Gardner começou a frequentar esse acampamento naturista regularmente e foi assim que ele encontrou alguns dos primeiros ocultistas de New Forest e pessoas envolvidas com a Bruxaria. No condado de Christchurch e ao redor dessa área
se estabeleceu o primeiro teatro Rosacruz da Inglaterra, como foi nomeado. Assim, Gardner se envolveu com o Teatro Rosacruz, em Greenwood, e diz-se que foi lá que ele conheceu os membros do Coven de New Forest. As pessoas que ele conheceu eram membros de uma organização ocultista chamada Irmandade de Crotona, que era Franco-Maçônica e Cristã Gnóstica.

A história que se conta e o que ficou largamente conhecida entre os membros da Arte é que pouco depois, Gardner ganhou a confiança do grupo e lhe explicaram que se tratava de um grupo de Bruxas hereditárias que praticavam uma Arte transmitida durante séculos. Ali ele foi apresentado à Dorothy Clutterbuck, carinhosamente conhecida por “Old" Dorothy”.

Dorothy Clutterbuck aceitou Gardner para a Iniciação e em setembro de 1939, ele foi iniciado na Antiga Religião na  residência dela, uma grande casa da vizinhança.

Acreditava-se que o Coven da Velha Dorothy era o último reduto de um Coven que descendia diretamente de um dos famosos "Nove Covens" que o Velho George Pickingill havia fundado quarenta anos antes. Durante os seguintes anos de 1940, enquanto trabalhava com o Coven, Gardner afirmou que tomara parte do famoso rito contra os altos mandos nazistas, em um intento de repelir a invasão das tropas de Hitler. Cinco membros do Coven faleceram pouco tempo depois. Suas mortes foram creditadas ao esgotamento de seu poder durante o ritual. Gardner também acreditou, na ocasião, que sua saúde tinha sido seriamente afetada.

Apesar de essa ser a história mais largamente divulgada acerca da iniciação de Gardner e a própria Doreen Valiente ter até mesmo publicado os resultados de sua busca por Dorothy Clutterbuck em trabalhos literários, apontando-a como a Alta Sacerdotisa do Coven no qual Gardner tinha sido iniciado, pesquisas mais recentes sugerem que existe uma contenda acerca da iniciadora de Gardner. Pesquisadores, incluindo Ronald Hutton, concluíram que Dorothy Clutterbuck era um pilar respeitável da comunidade cujo nome Gardner se apropriou para desviar a atenção para proteger a identidade de sua verdadeira iniciadora: Dafo, cujo nome real era Edith Rose Woodford Grimes.

Philip Heselton em seu trabalho "Witchfather: A Life of Gerald Gardner" sugere que na realidade a iniciadora de Gardner não seria nem Old Dorothy, muito menos Dafo, mas uma mulher chamada Rosamund Sabine, conhecida como "Mother Sabine". Rosamund tinha treinamento mágico e era uma ocultista experiente de sua época. Em 1905 Rosamund Sabine remeteu sua inscrição para se unir a um dos ramos sobreviventes da Golden Dawn. Um dos fatos que aponta fortemente para sua relação com a Bruxaria repousa em seu marido ter batizado sua casa de "Whinchat" (cf. "bruxa", "Wicca"). Mother Sabine coincidentemente vivia na mesma estrada em Highcliffe que Dafo. O marido de Mother Sabine foi membro da unidade da Home Guard local durante a Segunda Guerra Mundial e provavelmente conhecia Gardner, que era um de seus líderes.

Após ter sido iniciado por Old Dorothy, Dafo ou Mother Sabine, Gardner publica, então, seu primeiro livro em 1949, o romance "Com o Auxílio da Alta Magia" sob o pseudônimo Scire. Nessa época a Bruxaria ainda era ilegal na Inglaterra. A novela incluía os rituais do Coven de New Forest em forma romanceada.

Gardner provavelmente encontrou vários problemas após a publicação desse livro, pois, certamente, voltando na década de 1940, o termo "Bruxo (a)" não soava muito bem. Possivelmente, nessa época, já não fazia nem mais parte da Irmandade de Crotona e por isso afirmava que havia sido impedido pelo Coven onde tinha sido iniciado de divulgar os rituais das Bruxas. Posteriormente, alegou que sua expulsão do grupo se deu pelo fato de revelar mais do que deveria sobre seus rituais. E, dessa forma, ele provavelmente foi expulso ou saiu da Irmandade de Crotona subsequentemente para evitar maiores problemas, pois chamava abertamente os membros da Irmandade de Bruxos e afirmava que o grupo era um dos poucos Covens sobreviventes da antiga Bruxaria.

Muitas das práticas disponíveis às pessoas naquela época eram sobre Magia Cerimonial e Alta Magia. Gardner era um leitor ávido e havia muitos livros aparecendo naquele momento e um deles era o "Deus dos Bruxos" e "O Culto das Bruxas na Europa Ocidental", ambos de Margaret Murray.

Atualmente, alguns subestimam o trabalho dessa autora dizendo que não há evidência histórica de sobrevivência do culto das Bruxas. Mas na época tais teorias eram comumente aceitas e Margareth Murray gozava de fama e prestígio. Provavelmente Gardner, como muitos outros, aceitou as teorias do Culto das Bruxas na Europa Ocidental, sustentadas por Margareth Murray, e acreditava profundamente que ele existia.

E quando se envolveu com a Irmandade de Crotona e o Coven de New Forest Gardner realmente acreditou que eles praticavam Bruxaria e que esse era um grupo sobrevivente dessa antiga Religião, os herdeiros e depositários desse antigo culto mencionado por Murray.

Tenha sido Old Dorothy, Dafo ou Mother Sabine quem iniciou Gardner, uma coisa é certa: evidências apontam para a existência do Coven de New Forest e, no fundo, ele pode ter sido uma tentativa de criar algo semelhante à visão de Margaret Murray sobre a Bruxaria Europeia, que provavelmente começou do meio para o final de 1920 ou início de 1930. O Coven de New Forest pode muito bem ter incluído Rosamund Sabine, e pessoas respeitáveis na sociedade como Old Dorothy, assim como ter também incluído pessoas com experiência em diversos segmentos ocultistas vigentes na época, como a Ordem de Cavalaria Woodcraft. Dada a tendência nesse período de tais grupos reivindicarem ancestralidade em organizações ocultistas que não tinham sequer existido, não é de se admirar que Gardner tenha recebido a informação de que o Coven possuía uma antiga linhagem. Quando ouviu o termo "WICA" durante sua iniciação, Gardner pode ter deduzido que tinha encontrado algo semelhante às bruxas medievais descritas por Margaret Murray. O ponto chave é que, quer os membros originais do Coven de New Forest tenham ou não acreditado que eram bruxos antigos de uma linhagem que havia sobrevivido ininterruptamente em segredo, Gardner seguramente recebeu essa informação e acreditou nela e, provavelmente, ninguém tentou dissuadi-lo caso os fatos reais fossem diferentes.

Em 1951 foram banidas as leis contra a Bruxaria na Inglaterra e Gardner começou seu próprio Coven. De fato atualizou a "Antiga Religião da Bruxaria" e passou a chamá-la de "Wicca", apoiando o sistema no Culto de adoração à Deusa e ao Deus Cornífero. E assim e a Bruxaria moderna nasceu.
Em 1953, iniciou Doreen Valiente em seu Coven. Doreen Valiente, era extremamente culta e conhecedora dos diversos autores ocultistas correntes na época. Ela, analisando o material que Gardner tinha, percebeu a influência de diferentes autores nos escritos, incluindo Crowley. Doreen, então, disse a Gerald Gardner que nada daquilo fazia qualquer sentido. Ele afirmou a Doreen que tinha recebido os rituais fragmentados de seu antigo Coven e que teria usado as ideias e textos de outros autores para preencher as lacunas. Gardner solicitou, então, a ajuda de Doreen que durante os anos de 1954 a 1957 revisou a maioria dos trabalhos de Gardner e os modificou. Ela colocou todos os textos em ordem e adicionou sua própria poesia aos rituais.

Posteriormente Doreen se separou de Gardner para fazer as coisas à sua própria maneira, assim como muitas de suas Altas Sacerdotisas também o fizeram. Mas sua figura foi vital para conferir à Wicca grande parte dos seus textos e rituais que incluem não somente a Carga da Deusa, mas também o Grande Rito Simbólico e a versão do Livro das Sombras Gardneriano atualmente em circulação.

Em 1954, Gardner publicou "Bruxaria Hoje", um relato de não ficção sobre a Bruxaria moderna. A antropóloga britânica Margaret A. Murray, que alegava que a Bruxaria moderna era remanescente de uma religião Pagã organizada que existiu antes das caças às Bruxa, escreveu a introdução ao livro.

Neste livro, Gardner declarou que sentia que a ciência estava substituindo a confiança na velhas crenças e que a Bruxaria poderia morrer com os últimos praticantes da Antiga Religião. Nas próprias palavras do Gardner: "Devemos dizer adeus à Bruxaria. Este culto está condenado, em parte devido às condições modernas da família e educação. A criança moderna não está interessado. Ela pensa que a Bruxaria trata-se de uma história enganosa".

Por causa do livro "A Bruxaria Hoje", Gardner foi contatado por inúmeros Covens que atuavam em segredo na Grã-Bretanha.

Ironicamente, embora o livro "Bruxaria Hoje" tenha sido escrito para descrever a morte inevitável da Antiga Religião, ele produziu o nascimento de um novo movimento espiritual que não parou de crescer. Seu seguinte livro foi "O Significado da Bruxaria", lançado em 1959.

Em 1960, como porta-voz da comunidade Pagã, Gardner foi convidado para uma recepção no Palácio do Buckingham, onde foi reconhecido pelo seu trabalho no serviço civil no longínquo Oriente. Nesse ano começou a padecer de asma e sua esposa faleceu.

O mais importante sobre Gardner é que ele começou a fazer as coisas se moverem e levou as pessoas a reverem seus conceitos sobre religião e espiritualidade. Antes de Gardner, para se estar envolvido com o Ocultismo na Inglaterra, era necessário pertencer à alta classe, ser rico e ter dinheiro. O que Gardner fez foi trazer o Ocultismo da alta classe para a classe média e popularizá-lo.

Gardner nunca chegaria a ver o impacto que suas ideias causariam no mundo. Retornando de suas férias do Líbano, a bordo de um navio, sofreu um ataque fulminante do coração em 12 de fevereiro de 1964. Foi enterrado um dia depois no porto seguinte, na costa da Tunísia, em Tunis, em um funeral no qual esteve presente somente o Capitão do navio em que viajava.

Gerald Gardner representa muito para a Bruxaria Moderna e para o movimento Neopagão em geral. Sem ele, a Wicca do modo que a conhecemos hoje jamais existiria.

E por isso ele é honrado e reverenciado por todos os Gardnerianos: por essa abertura pela qual foi responsável e por ter legado à todos nós uma Tradição de Mistérios única.